O "novo" Conde de Monte Cristo

O épico de Alexandre Dumas retorna aos cinemas

CINEMA

Marcos Mantuan de Castro

9/27/20253 min read

Um papel, executado de forma brilhante por Jim Caviezel em 2002, "O Conde de Monte Cristo" volta aos cinemas em 2024, através de Pierre Niney, ator francês, até então, pouco conhecido do público em geral. Confesso que eu mesmo, nunca havia visto o trabalho do ator. Mas, que cartão de visitas, Monsieur Niney. (Após assistir a nova versão, assisti também "Frantz" e "Fiasco", ambas produções francesas que demonstram a grande versatilidade do ator.)

Escrito por Alexandre Dumas, o romance original é um dos grandes clássicos da literatura francesa e mundial.

Confesso que, em se tendo a oportunidade de ler o livro, você nota, até pelo potencial do elenco, que contava com Jim Caviezel e Henry Cavill, que o filme de 2002, poderia ter se utilizado mais do livro. É um grande filme mas poderia ter sido maior.

A Versão de 2024, ainda que tenha certas liberdades criativas que às vezes coloquem * na produção, procurou seguir o livro na maior parte das 3 horas de duração.

E é aí que Pierre Niney dá um show. Explorando cada nuance de seus personagens, seus, porque além de Edmond e do Conde, Pierre Niney nos apresenta a dois disfarçes do Conde (que no livro tem uns 7) que agregam e abrilhantam a narrativa, de um roteiro bem construído, cuidadoso e brilhantemente (tal qual o de 2002) executado.

Outro destaque, se me permitem fazê-lo, é a atriz Anamaria Vartolomei, que nos apresenta uma personagem do livro, que fora ignorada na adaptação de 2002. De uma graciosidade tremenda, a atriz entrega aquilo que a personagem exala no livro. Mas o final dela é provavelmente a maior escorregada do roteiro. Fruto de uma adaptação que, no livro, é destinada à outra personagem.

Mesmo assim, o roteiro de 2024 é tão amplo e bem amarrado que certamente nos perguntamos como um ator do calibre de Jim Caviezel faria com um roteiro maior. Pois o roteiro de 2024 parece não só reconhecer os méritos de adaptações anteriores, como a de 2002 e até mesmo do Anime GANKUTSUOU de 2004 adaptação japonesa do romance, de onde reconheço muitos dos traços assumidos por Niney, como o formato do rosto, a cadência de movimentação e outras características, como por exemplo a adição da cartola no figurino de Dantès enquanto conde. A versão 2024 não apenas reconhece tais méritos, como também os reaproveita e traz para mais próximo do livro e dá novos contornos à obra cinematográfica. Há cenas que são muito parecidas com as de 2002, outras, no entanto foram reduzidas e até mesmo reformuladas com recurso narrativo mais direto. Algo que em nada atrapalha a cadência do longa.

Outro ponto a ser destacado é a precisão com que é tratada a descrição de personagens e cenários, altamente fiéis ao livro.

Acima de tudo, a adaptação, na língua original da obra confirma que a qualidade cinematográfica deixou de ser, de fato, um monopólio de Hollywood, que infestada pela cultura woke, se vê estagnada diante do crescimento de outros centros cinematográficos pelo mundo. Dentre os quais, a França aparece constatemente em evolução e com certo destaque.

Fato é, Pierre Niney entrega um conde robusto, complexo e genial, é possível sentir toda a dualidade do personagem. Do ódio cultivado por Dantès ao sentimento, por vezes, sutíl que ainda conserva a humanidade do frio conde de Monte Cristo. O que nos faz acreditar que esse papel alavancará a carreira do ator, tal qual alavancou a carreira de Jim Caviezel.

O novo Conde de Monte Cristo é uma adaptação genial, conserva a essência da história e nos apresenta uma nova geração de atores que mostram talento e capacidade para a grandiosidade.

"Ce n'est pas de la vengeance, c'est de la justice."

*Texto escrito em Janeiro/2025